Essa não é a sua vida.

14 de outubro de 2008

Janela do meu quarto

Essa é vista da janela do meu quarto esta semana. Lá em cima da torre tem dois homenzinhos, chegando cada vez mais alto. Quando eu tinha meus poucos quatro anos de idade (certas cenas a gente não esquece), subia numa pilha de coisas pra poder ficar pendurada nessa janela. E tinha a impressão de que os anos se aproximavam por esse horizonte ("Olha lá meu aniversário chegando. Eu tô vendo"). Quando nele não havia essa construção mal feita a nossa direita, nem a torre que cresce a cada dia, nem eu as janelas do mundo. Janelas me lembram a Tabacaria do Álvaro de Campos, ou Fernando Pessoa, como preferirem.

Tabacaria*

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

* Leia o texto inteiro aqui.

3 comentários:

Emil disse...

Peep show acrobático.

Mas ei, só pode ser escrito na fomra de paradoxo.

Vinícius Castelli disse...

Da janela se voa.

De Marchi ॐ disse...

/\
|| Já dizia o pessoal do WTC.