Essa não é a sua vida.

14 de setembro de 2007

Off line

Sabe, acho que alguém tem que publicar o impublicável. E esse alguém tem que ser eu. Então vou contar a história de um senhor chamado João Silvério, que adentrou as portas do Diário do Grande ABC. Ele não tem casa. Mora em uma banca de jornal, na Barra Funda, que não pode abandonar senão o pessoal do Pró-crime invade. Às vezes vai para um hotel.
O Pró-crime é o equivalente ao Procon, mas no caso são os delegados que protegem os ladrões. Eles são muitos, espalhados pelo país todo. Tem até faxineiro no meio. Gente que você nem imagina. E eles não gostam do senhor Silvério. Todos os vizinhos do velhinho de 74 anos são espiões. O que se passa é que, no fim-de-semana passado, ele resolveu visitar Paranapiacaba. Lugar muito poético. Na volta, pegou um ônibus lotado, depois de sair de outro em que o motorista ouvia música muito alta. Passou na frente das pessoas da fila, o que deixou um bombeiro muito irritado. Mas veja, ele só passou porque é velhinho! O bombeiro o insultou muito, depois, como o ônibus estava lotado, passou escorregando pelas cabeças das pessoas. Silvério nunca viu aquilo na vida dele. E o homem era barrigudo e mesmo assim deslizou nas cabeças! O bombeiro retornou para o ônibus, agora com toda a sua família, que também o insultou. Era uma cena nunca vista antes. A mãe do homem era muito gorda, desproporcionalmente gorda. Mas o bravo Silvério não saiu do lugarzinho dele.
Quando chegou na estação, a família não deixou que ele entrasse no trem. A gorda era jogada para cima dele. Chamou os seguranças, que descobriram que o bombeiro 'mágico' era PM e ajudaram a tirar o velhinho do trem. Eram do Pró-crime. Veja só. Até em Paranapiacaba.

- Ce num tá acreditando, né moça?
- Não, tô sim. Pode deixar que a gente vai ver o que pode fazer pelo senhor. Como matemos contato?
- Pode ser por carta. Mas presta atenção: não pode ser pelos Correios porque eles são do Pró-crime. Você tem que colocar a carta de baixo da banca, ok?
- Ok, pode deixar.

Nessas horas é até legal ser jornalista.

P.S.: Odeio textos grandes. Mil perdões pelo tempo tomado.

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