Sob o Sol de Deus

Meu tio morreu sábado passado.
O Cidão era um cara legal. Passou por maus bocados na vida. Nada deu muito certo pra ele. Deve ser por isso que eu não me abalei muito. Acho que ele já tava morto há algum tempo.
E tudo que eu guardo de bom sobre ele se refere a minha infância.
O Cidão me comprava danones e me fazia miojo com ovo, que era a especialidade dele.
Sempre que chegava do serviço e eu e meu irmão estávamos na casa da vó ele vinha brincar com a gente.
Mas ai eu cresci, ele se mudou. Morreu.
Num faz nem um ano que minha avó morreu. Dela eu sinto uma saudade enorme.
Ano passado, nesse mês, eu tava lá em Minas, na casa dela. Já sabia que não viveria muito, então aproveitei bastante. Lembro que tava frio, mas lá sempre tinha um solzinho que batia de vez em quando. Ficávamos lá por um tempão, quietas mesmo.
“Ai como Deus é bom, me deu até esse solzinho”
Essa frase é do meu avô materno, que é uma fofo e morre de frio. Às vezes ele veste três gorros pra se proteger. Fica engraçado.
Então, morte ainda é estranha pra mim.
Deve ser porque eu nunca morri : )